A Economia falhou? PDF Imprimir e-mail
24-Abr-2009
dinheiro_arder.jpgÉ inevitável que o capitalismo gere uma pleiade de vencidos e vencedores, está na sua própria estrutura, os ganhos de alguns serão as perdas de outros...e nas alturas de crise profunda, poderão ser as perdas de quase todos, como demonstra cabalmente a crise actual que vivemos.

Contributo de Paulo Jesus

Não podia deixar de reflectir no meu tema inaugural, sobre os conceitos fundamentais da Economia, as razões da sua existência, o sentido ético desta Ciência e os seus protagonistas, em suma, para que é que serve, sabendo, pelo que observamos, as desigualdades sociais são crescentes.

A Economia, como Ciência, falhou?? Não está destinada a ter sucesso??

O sentido ético da mesma não lhe serve de base? Apenas a melhor alocação dos recursos escassos, em que inevitavelmente haverá vencidos e vencedores ?

É inevitável que o capitalismo gere uma pleiade de vencidos e vencedores, está na sua própria estrutura, os ganhos de alguns serão as perdas de outros...e nas alturas de crise profunda, poderão ser as perdas de quase todos, como demonstra cabalmente a crise actual que vivemos.

O argumento, falacioso, diga-se, do capitalismo, é que a sociedade deve auto regulamentar-se num mercado livre, de concorrência perfeita. Só assim, haverá motivação para a inovação, compatibilidade entre oferta e procura, que permitirá manter os preços estáveis, ou mesmo tendencialmente mais baixos, tendo em conta ganhos de produtividade.

Porém, tudo isto é falso. O capitalismo cresce baseado na geração permanente do lucro, que por sua vez conduz à financiarização da economia, abrindo caminho para a especulação financeira, off shores, e profundos desequilíbrios na distribuição do rendimento entre os diversos intervenientes da acção económica.

O capital precisa de permanente fermento, criando de tempos a tempos bolhas especulativas derivadas da ganância do capital. Estas bolhas especulativas levam a perdas em bolsa, perdas de activos brutais que vão reflectir-se a montante, em sectores industriais, isto é, na economia real... verdadeiramente produtiva, gerando falências em massa, e consequentemente desemprego.

Outra falácia recorrente do capitalismo são os ganhos de produtividade, que geram produtos massificados a preços mais baixos. Os ganhos de produtividade em Portugal são obtidos, numa grande maioria dos casos, à custa do completo desrespeito do código de trabalho, na total inoperância da ACT, e dos poucos, ou nenhuns escrúpulos de alguns, e sublinho, apenas alguns, empresários Portugueses.

As taxas de acções de formação na empresa, ou mesmo apoiadas externamente pelas próprias empresas são das mais baixas da Europa, por isso, os parcos ganhos de produtividade em Portugal tornam-se claros à custa de atropelos constantes à lei.

Em suma, o sistema ecoómico vigente, e propalado anos e anos por políticos e economistas, o capitalismo, falha, e sempre falhou, é um mestre em criar ilusões, através do recurso ao crédito constante, à hipotética existência de concorrência perfeita. Mas na verdade, isto não existe, são apenas truques momentâneos para insuflar um balão de oxigénio que mais cedo ou mais tarde rebentará.

Os EUA, o País das ilusões e contradições mais caricatas, tem mais pobres que Portugal inteiro, mais de 45 milhões de cidadãos sem direito a um seguro de saúde, um conjunto de ricos restritos multimilionários que dominam e decidem inúmeros aspectos da vida americana sem serem eleitos por ninguém, cuja influência pode ultrapassar as suas próprias fronteiras, é a "democracia" do capital.

Quando este sistema, sustenta-se com vencidos e vencedores, então a Economia vista como ciência, falha redondamente, desmascara-se a ética, e acaba por estar votada à desacreditação e ao fracasso.

A economia em si, é uma ciência social e humana, deve centrar-se no bem estar das pessoas. Deve monitorizar permanentemente situações de desiquilíbrios sociais, e adoptar as respectivas medidas correctivas. Só uma intervenção de uma entidade independente, soberana e forte poderá atenuar, melhorar e cumprir com os objectivos éticos e formais desta ciência. Urge desenvolver um verdadeiro sentido ético e social de todos os agentes económicos.

A redistribuição eficaz da riqueza gerada, para atacar eventuais desiquilíbrios de uma economia de mercado social, a mão invisível, é a base de uma sociedade com sentido ético, igualdade de oportunidades, solidariedade social.

Por isso defendo:

- a nacionalização das empresas em estado monopolistas, pois essas corrompem os preços, criando uma renda extraordinária fruto da impotência do estado e do mercado em anular.

- A existência de um Banco âncora, estatal, que sirva o País e não se sirva a si próprio, e a meia duzia de parasitas que voam à sua volta.

- Um sistema de regulação financeiro verdadeiramente eficaz, e não a palhaçada e o ridículo a que se votou actualmente o Banco de Portugal.

- O fim da especulação financeira com os fundos de pensões dos trabalhadores.~

- Uma Segurança Social, verdadeiramente orgulhosa desse nome.

- O fim da independência do BCE na decisão das taxas de juro.

- A proibição das parcerias público-privadas, na gestão de recursos que são de todos, àgua por exemplo.

- O cumprimento do código de trabalho através de uma inspecção mais eficaz dos organismos a isso obrigados

- O fim das Off Shores, só com eficácia a nível mundial.

O dinheiro retirado desses buracos negros da burlice financeira era suficiente para ajudar a resolver problemas tão díspares da nossa actualidade tais como; aplacar a fome em África, não temermos o futuro da Segurança Social, serviços de saúde gratuitos e de qualidade, maior e melhor comparticipação em medicamentos... etc etc...

Só o Socialismo democrático é capaz de cumprir com os verdadeiros objectivos de uma real Ciência Económica, cumprindo assim o seu dever ético de permitir que os vencedores apoiem os vencidos, para quando, os vencidos forem vencedores, e os vencedores vencidos, estes também possam fazer o mesmo, num processo permanente e equilibrado.

Os recursos são escassos, isso já sabemos... mas devem ser de todos...

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Paulo Jesus

 
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