O novo paradigma da Medicina – Medicina Integrativa PDF Imprimir e-mail
18-Mar-2009
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O novo paradigma da Medicina – Medicina Integrativa
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1. A crise na Saúde



O aparecimento de novos paradigmas na medicina está ligado a diversos acontecimentos, situações e condicionamentos complexos, de natureza, ao mesmo tempo, socioeconómica, cultural e epidemiológica. Entre estes acontecimentos fundamentais, destaca-se um conjunto de eventos e situações que podem ser denominados de "crise da saúde", característica do final do século e do milénio (ALMEIDA, 1998).

A crise da saúde pode ser vista, em primeiro lugar, como fruto ou efeito do crescimento das desigualdades sociais no mundo, consideradas aqui as sociedades do capitalismo avançado (predominante no Primeiro Mundo), as do capitalismo dito dependente (predominante no Terceiro Mundo), as sociedades oriundas dos destroços do socialismo, e o conjunto de países subdesenvolvidos do Continente africano, às vezes denominados de Quarto Mundo.

Este todo forma um conjunto submetido às leis de uma economia capitalista chegada a um estádio de internacionalização e dominância completa sobre o planeta, processo que economistas e cientistas políticos têm chamado de "globalização" (ALMEIDA, 1998).

De acordo com o mesmo autor, essa crise torna-se particularmente aguda nas sociedades onde há desigualdade social profunda, como nos continentes latino-americano, asiático e africano, com a grande concentração de arrendamento actual, gerando problemas graves de natureza sanitária, tais como a desnutrição, a violência, as doenças infecto-contagiosas e crónico-degenerativas, além do ressurgimento de velhas doenças que se acreditava estarem em fase de extinção, tais como a tuberculose, a lepra, a sífilis e outras doenças sexualmente transmissíveis, que se aliam a novas epidemias, como é o caso da do HIV.

Todas estas questões poderiam ser controladas, ou mesmo prevenidas, com políticas sociais adequadas, se os governos desses países estivessem comprometidos com a saúde da população, e não com a actual onda político- -ideológica neoliberal, que tem gerado políticas económicas e sociais que agravam o quadro sanitário descrito.

Esta questão, muito discutida pelos mesmos economistas e cientistas políticos que discutem a globalização como facto económico, motivará, indirectamente, a procura de outra racionalidade na saúde, pelas populações (ALMEIDA FILHO, 1996).

Além disto, devido em grande parte às condições socioeconómicas que originam a crise sanitária, desenvolve-se actualmente no mundo capitalista o que sociólogos franceses como Michel Joubert, que tratam das relações entre a saúde e a cidade, têm denominado de "pequena epidemiologia do mal-estar", ao analisarem uma síndrome colectiva que se poderia definir como biopsíquica, com grande repercussão na saúde física e mental da força de trabalho, caracterizando-se por dores difusas, depressão, ansiedade, pânico, problemas na coluna vertebral, entre outros, que atinge milhões de indivíduos das populações de quase todos os países nas grandes cidades, ocasionando uma situação permanente de sofrimento para os cidadãos e de perda de muitos milhões de euros anuais para as economias desses países, em função de dias de trabalho perdidos.

Este "mal-estar" colectivo pode ser visto como um fenómeno de natureza tanto sanitária como cultural, que tem as suas raízes não apenas nas condições de trabalho do capitalismo globalizado, mas na própria transformação recente da cultura que é o seu fruto (ALMEIDA FILHO, 1996).

Verifica-se, com esta transformação, a perda de valores humanos milenares nos planos da ética, da política, da convivência social e mesmo da sexualidade, em proveito da valorização do individualismo, do consumismo, da procura do poder sobre o outro, e do prazer imediato a qualquer preço, como fontes privilegiadas de consideração e status social.

A brusca mudança de valores nos campos mais importantes do agir e do viver humanos, sugerida ou amparada por meios poderosos de difusão cultural como a televisão, o rádio, a imprensa escrita em geral e, principalmente, a publicidade e a propaganda que atingem pesadamente as populações de quase todo o planeta, tem vindo a causar uma situação de incerteza e apreensão sobre o modo de se conduzir e de pensar e sentir em relação a temas básicos como a sexualidade, a família, a nação, o trabalho, o futuro como fruto de uma vida planeada, entre outros (ALMEIDA FILHO, 1996).

Além disso, a unificação mundial das fontes de informação e difusão cultural têm vindo a ocasionar uma quebra de padrões nas culturas nacionais, e mesmo regionais dos países, substituindo-se antigos padrões de identidade cultural por padrões homogéneos próprios da cultura de massas.

Paradoxalmente, esta homogeneização "pelo alto", isto é, a partir do central, proporcionou uma fragmentação "por baixo", isto é, a partir da esfera local, tendo havido o ressurgimento - ou pelo menos a recuperação ou a revalorização - de antigos padrões e formas particulares de expressão de cultura, entre os quais figuram aqueles relacionados à Saúde e à Medicina.

A vivência colectiva desta situação de mutação cultural tem gerado um quadro de inquietação e mal-estar social, com repercussões concretas na saúde dos cidadãos das diversas sociedades (CAPRA, 1998).




 
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