O novo paradigma da Medicina – Medicina Integrativa PDF Imprimir e-mail
18-Mar-2009
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O novo paradigma da Medicina – Medicina Integrativa
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2. A Crise da Medicina



A crise da Medicina deva ser distinguida do grande quadro que já se referiu anteriormente, por outro lado, não deve ser dissociada do mesmo, pois terá de ser analisada em vários planos de grande significação, tanto em termos socioeconómicos, como culturais.

O plano institucional é considerado por muitos, como o principal, na medida em que se traduz nos programas de atenção médica, sobretudo aqueles destinados às populações de baixos rendimentos. Em seguida, o plano ético, ligado à prática médica, na medida em que se destaca a perda ou a deterioração actual da relação médico-doente, com a objectivação dos doentes e a mercantilização das relações entre o médico e o seu doente, visto actualmente mais como um consumidor potencial de bens médicos, do que como um sujeito doente a ser, se não curado, pelo menos aliviado no seu sofrimento, pelo cuidado médico (CAPRA, 1998).

Imediatamente a seguir, destaca-se o plano da eficácia institucional médica, no qual deve ser destacada a perda, pela medicina actual, do seu papel milenar terapêutico, isto é, da sua função de arte de curar em proveito da diagnose, com o avanço das ciências do campo biomédico, através da investigação cada vez mais sofisticada de patologias, sem igual consideração pelos sujeitos doentes e pela sua cura.

Em seguida, sublinha-se a grave questão da bioética, implicada na investigação biomédica, que se desenvolve, actualmente, em progressão quase exponencial no âmbito microanalítico, jamais alcançado pela ciência: o nível genético, mais uma vez sem uma cuidadosa consideração do sujeito humano, nele envolvido, directa ou indirectamente.

Também deve ser considerado o plano corporativo, ou seja, o da profissão médica, que implica não apenas a questão da ética profissional em termos das relações intracategorias (questão das especialidades médicas), como as relações intercategorias da área de atenção à saúde (relações médicos/terapêutas, ou médicos e outras profissões de Saúde, como os psicólogos, os enfermeiros e assistentes sociais, entre outros), que chegaram actualmente a um nível de grave competição, perceptível nos serviços públicos de saúde.

Aqui também deve ser destacada a questão das relações entre profissionais médicos e cidadãos, sobretudo no que concerne aos utentes dos serviços públicos, caracterizadas muitas vezes por conflito ou hostilidade (FREIRE, 1999).

Não podem ser esquecidos o plano pedagógico, da educação médica (médicos: como, para quê e para quem?), e o político-institucional, da formação de recursos humanos, para actuarem na área biomédica nos seus diversos níveis - técnico, administrativo e de planeamento. Aí, deve ser destacada a questão da perda progressiva da capacidade das escolas ou faculdades da área de atenção à saúde para formar profissionais aptos para resolver, ou mesmo equacionar, problemas de saúde/doença de grande parte da população, sobretudo nos países de grandes desigualdades sociais, os do Terceiro e Quarto mundos (FREIRE, 1999).





Deve ser ressaltado, entretanto, que o que aqui se designa de "crise da medicina" não significa, absolutamente, uma crise no seu modelo de produção de conhecimento ou uma estagnação nas suas investigações. Não se trata de uma crise do que Foucault designaria de saber médico. Muito pelo contrário, em termos de "ciência das doenças", a medicina encontra-se muito bem, revolucionando-se constantemente através da produção dos ramos disciplinares da biociência que mais lhe são próximos.

Até este momento, analisa-se a "crise" muito mais nos planos ético, político, pedagógico e social.

Outros planos poderiam também ser destacados para análise, como frequentemente o são, em planeamento de saúde: o plano económico, dos custos crescentes da tecnologia médica e os seus efeitos institucional e social; o plano da irracionalidade da organização da medicina, centrada num modelo de atenção médica hospitalar, em detrimento das necessidades de atenção primária da população, entre outros (FREIRE, 1999).

Salienta-se, entretanto, que sempre que se analisam os elementos da questão social da medicina na sociedade actual, estes aspectos são privilegiados na análise de gerentes e planificadores, além de políticos do sector da Saúde, sem que se levem em consideração os aspectos anteriormente mencionados. Neste caso, a "irracionalidade da medicina" resume-se a um problema puramente de gerência ou, no máximo, de políticas públicas adequadas que é necessário implementar, controlar e avaliar (FREIRE, 1999).



Finalmente, destaca-se o plano que se designa de Racionalidade Médica, na medida em que o próprio paradigma que rege a medicina contemporânea sofreu um afastamento do sujeito humano sofredor como uma totalidade viva nas suas investigações diagnósticas, bem como na sua prática de intervenção. Isto também acontece devido a este sujeito humano sofredor ter deixado de ser o centro do seu objecto (como investigação) e do seu objectivo (como prática terapêutica). Este duplo afastamento gerou uma dupla crise na saúde das populações e na medicina como instituição, detectada a partir da segunda metade do século XX, que parece ter-se agudizado nos últimos vinte anos (FREIRE, 1999).




 
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