O novo paradigma da Medicina – Medicina Integrativa PDF Imprimir e-mail
18-Mar-2009
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O novo paradigma da Medicina – Medicina Integrativa
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3. A Medicina e a Cultura



Toma-se como marco histórico simbólico da dissociação entre saúde, medicina e cultura a conferência de Alma Ata, realizada na União Soviética, em 1978. Nela, o director geral da Organização Mundial da Saúde declarou a incapacidade da medicina tecnológica e especializada para resolver os problemas de saúde de dois terços da Humanidade, fazendo um apelo aos governos de todos os países para o desenvolvimento de formas simplificadas de atenção médica destinadas às populações carentes do mundo inteiro, com o correspondente esforço no campo da formação de recursos humanos, utilizando-se, para isso, os próprios modelos médicos ligados às medicinas tradicionais.



"Saúde para todos no ano 2000" foi o lema então lançado. Aparentemente, às vésperas do terceiro milénio, nunca se esteve tão longe de tal propósito, pois já são três quartos da população mundial que carecem de cuidados de saúde, seja no sentido mais amplo, de condições colectivas adequadas e salutares de existência, seja no sentido mais restrito, de pessoas atingidas individualmente nas suas funções orgânicas e sistemas psicobiológicos, gerando assim um quadro de crise sanitária internacional. Tendo-se em consideração o grande e continuado desenvolvimento da tecnologia e da ciência no campo da medicina, e a sua incapacidade para reverter tal quadro, a procura de outra racionalidade em saúde por parte de distintos grupos sociais que conformam clientelas de cuidados médicos, e mesmo por parte de profissionais terapeutas, torna-se uma explicação razoável para o sucesso de sistemas terapêuticos regidos por paradigmas distintos daqueles da medicina científica (FREIRE, 1999).

Além disso, por mais paradoxal que pareça à primeira vista, a própria ideologia hedonista de valorização do corpo, da individualidade, da beleza e da conservação da juventude, associada à fisicultura, o aparecimento e o desenvolvimento de novas representações de corpo, indivíduo, pessoa e sanidade, que tendem a opor-se às representações e concepções de temas classicamente ligados à cultura médica, tais como as de máquina ou autómato altamente organizado, no caso de corpo; de divisão dualista corpo/mente, no caso de indivíduo, e de separação homem/natureza, no caso de pessoa.

As novas representações sobre estes temas, apoiadas na divulgação, pelos media, de padrões "naturais" de consumo, de beleza e de higiene, tendem a valorizar um neonaturismo ecológico como fonte de saúde, e a procurar a superação da representação homem/máquina na cultura contemporânea (FREIRE, 1999).

Tais representações, por outro lado, encontram suporte, ainda que em termos de negação, num conjunto de factos recentes de natureza ambiental.

É necessário mencionar a deterioração progressiva do meio ambiente planetário na segunda metade do século, produzida pelo desenvolvimento industrial apoiado numa tecnologia invasiva e predatória da natureza, com os conhecidos efeitos da poluição atmosférica, pluvial e marítima, da erosão, do assoreamento, da desertificação e da depredação de sítios e nichos insubstituíveis da natureza, colocando-se em risco a diversidade biológica e a própria sobrevivência da Humanidade.

Uma grande inquietação social está associada a esta "perda da natureza", se assim se pode qualificar a preocupação do movimento ecológico surgido nos últimos vinte anos, e que não se limita a "endeusar" a questão do meio ambiente, mas também a questão da vida como um todo, incluindo-se aí a questão da saúde humana.

A recuperação das categorias de vida, saúde, higiene, entre outras, está ligada a esta "consciência ecológica" característica do fim do milénio, o que também leva à procura de outro paradigma em saúde, pelo menos nas grandes cidades, ou nas regiões mais urbanizadas do mundo actual. Neste contexto, a medicina tecnológica tende a ser representada como antinatural e antiecológica, e a procura de medicinas "naturais" ganha a simpatia de camadas importantes das populações urbanas (FREIRE, 1999).




 
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