O novo paradigma da Medicina – Medicina Integrativa PDF Imprimir e-mail
18-Mar-2009
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O novo paradigma da Medicina – Medicina Integrativa
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5. As Medicinas Alternativas e o Novo Paradigma Médico



Um novo paradigma médico pode nascer justamente onde a racionalidade médica ocidental esqueceu que era mais que um saber científico, isto é, que é também uma arte de curar doentes, distanciando-se da sua dimensão terapêutica, na procura de investigar, classificar e explicar antigas e sobretudo as novas patologias, através de métodos diagnósticos crescentemente sofisticados.

Na arte de curar predomina a terapêutica sobre a diagnose. Deste ponto de vista, as medicinas tradicionais, com a sua racionalidade terapêutica específica, inovam, em termos de paradigma, quanto aos aspectos a seguir referidos:

O doente, visto como totalidade biopsíquica, bem como o seu cuidado, tendem a ser considerados não apenas o objecto, mas também o objectivo central de medicinas como a homeopatia, a fitoterapia, a naturopatia, a medicina tradicional chinesa e a ayurvédica. No momento actual da cultura contemporânea, a questão do cuidado tornou-se crucial para todos os indivíduos, seja o auto-cuidado, seja o heterocuidado, onde estão necessariamente incluídos os cuidados médicos.

A generalidade e o distanciamento abstracto com que são tratados os doentes da biomedicina ou medicina convencional, em função da centralidade da doença no paradigma da medicina científica, criaram uma barreira cultural para muitos indivíduos e grupos sociais, que demandam ser efectivamente tratados e não apenas diagnosticados. Não basta aos doentes, ou aos indivíduos em risco de adoecimento, saberem o nome da patologia que têm ou poderão vir a ter; precisam também de saber se e como serão efectivamente cuidados para se curarem do mal ou não o contraírem. Por outras palavras, a questão da cura voltou a ser importante na cultura, e a medicina ocidental ainda não parece ter-se dado conta da importância deste evento para seu futuro desenvolvimento nas sociedades. As medicinas alternativas têm vindo a ocupar o lugar vago deixado pela medicina convencional, e dispõem de muita experiência neste âmbito.

Num contexto de extrema sofisticação tecnológica quanto aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos (exames, intervenções cirúrgicas ou paracirúrgicas, entre outros), interpõem-se máquinas de grande precisão entre o paciente e o seu médico, estabelecendo-se uma "frieza" técnica na relação entre estes dois factores sociais. Entretanto, a relação terapeuta/doente é historicamente carregada de grande significação simbólica, inclusive quanto ao contacto físico dos dois actores, o que implica o toque do corpo do doente. No contexto de distanciamento actual, o doente tende a ser visto e a sentir-se como um mero objecto de intervenção tecnocientífica, muitas vezes uma cobaia, despojado não apenas do seu corpo e do seu psiquismo, mas também de símbolos e significados pessoais e sociais investidos no seu adoecimento.

As medicinas alternativas, sobressaindo-se nesse caso a homeopatiae a naturopatia, tendem a ver a relação médico/doente como um elemento importante da cura, um guia seguro de indicação de evolução do tratamento. O aspecto psicológico, além do simbólico, é aqui evidentemente importante, e coloca à medicina convencional uma questão crucial em face da eficácia médica e da resolução de questões de saúde dos utentes de serviços públicos e grande parte dessa eficácia e resolução resulta da satisfação que os doentes encontram no seu tratamento. Tal satisfação deriva, por sua vez, de uma relação socialmente complexa, em que estão presentes elementos simbólicos e subjectivos, estabelecida entre os dois termos. A satisfação não deriva, portanto, apenas de uma racionalidade tecnocientífica, que tende, aliás, a ignorar a dimensão humana envolvida na relação terapeuta/doente.



O sucesso das medicinas alternativas nos últimos quinze anos deriva, em grande parte, da maneira como essas medicinas estabelecem a relação com os seus doentes (LUZ, 1999).

Esta relação poderia servir como um parâmetro de discussão para a medicina institucional na actualidade, colocando-se em pauta a importância do aspecto simbólico em qualquer sistema terapêutico.

Sabe-se que há pelo menos 20 anos que as questões mais importantes de saúde das populações do mundo inteiro, marcadamente em países do Terceiro Mundo, já não são uma questão estritamente médica. Sabe-se, através de contribuições da medicina sanitária, que uma tecnologia relativamente simples, adquirida pela medicina há várias décadas, seria suficiente para enfrentar as doenças mais comuns nestes países - tanto as infecto-contagiosas, quanto as crónicas (LUZ, 1999).

Entretanto, as questões actuais de saúde mais amplas exigem, para enfrentá-las, não apenas políticas públicas infraestruturais ligadas ao saneamento e à educação, actualmente deixadas de lado pelos governos com a dominância mundial do neoliberalismo, como também os modelos médicos pouco dispendiosos, que possam assegurar práticas adequadas de promoção e recuperação da saúde.

Tais modelos não fazem apelo à grande tecnologia actual, tão refinada quanto cara e ligada às especialidades médicas; muito pelo contrário, supõem uma visão mais globalizante e integrada da saúde dos cidadãos, atendendo-os com o que se designa normalmente como modelo de atenção primária à saúde. Este actua de maneira mais simplificada tanto para a diagnose, dispensando a parafernália dos exames sofisticados, como para a terapêutica. Privilegia-se, como forma de intervenção prioritária, a adopção pelos utentes, de práticas alternativas de saúde, hábitos e estilos de vida. Hierarquizam-se acções, formas de intervenção, incentivando-se muitas vezes uma presença mais activa do cidadão doente face à sua doença, através de estratégias de socialização, como a formação de grupos de doentes com troca de experiência e tomada de decisões para iniciativas de práticas colectivas, reuniões e discussões com terapeutas e especialistas, entre outras medidas (LUZ, 1999).




 
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