O meu Bairro tem 800 anos e o senhorio não faz obras! PDF Imprimir e-mail
01-Abr-2009
EstremozNúcleo histórico de forte influência árabe com uma população envelhecida e proveniente dos estratos mais desfavorecidos da sociedade, o Bairro de Santiago em Estremoz confronta-se hoje com o mesmo tipo de problemas que o restante interior do país: falar de Santiago, de Estremoz e do Alentejo é falar do interior em geral.

Contributo de Luis Mariano  

Este Bairro teve algum protagonismo na Idade Média com a construção do castelo e após a Restauração com o desenvolvimento da fortificação em baluartes. A chegada do Caminho de Ferro mudou o centro económico e político para o Rossio. A burguesia emergente desceu a colina e os deserdados da sorte subiram-na à procura de um sítio barato para morar.

Hoje, o trânsito não é regulamentado (há apenas um sinal de trânsito), as casas não têm condições de habitabilidade (muitas não tem ventilação natural, nem água corrente nem sanitários), a recolha de lixos é deficiente (é comum o lixo andar espalhado pelas ruas ou ser atirado pela muralha abaixo), há mais de quinze famílias a viver em "quartéis" (quartéis são divisões com porta directa para a rua, sem esgoto, nem água, nem janelas, muitas sem electricidade e com cerca de 16m2, onde chegam a "viver" 4 pessoas), o pouco comércio está a encerrar, espaços verdes há com fartura (as ervas estão por todo o lado), a iluminação pública é deficiente, os assaltos sucedem-se, as casas abandonadas caem, falta a água, etc.

Quem aqui vive tem pouca capacidade reivindicativa (idosos, ciganos, famílias a viver do rendimento mínimo, desempregados, operários/as) por isso somos cartas fora do baralho.

Do outro lado da cidade constroem-se grandes superfícies, avenidas novas e rotundas. Há projectos para mais cosmética no centro da cidade (sempre em frente à Câmara Municipal, pois claro).

Num país com 150 km de largura, falar de interioridade é obra... Aqui no Alentejo até a Zambujeira do Mar, Sines e Melides sofrem de... interioridade.

As zonas industriais do Alentejo são esqueléticas por falta de incentivos aos empresários que criem postos de trabalho: redução de impostos municipais, oferta de lotes de terreno, apoio ao escoamento dos produtos e à gestão, mercados internos, etc.

As zonas mais deprimidas precisam de gente jovem a habitar lá. É urgente que o Estado e as Autarquias Locais definam que não se pode construir de novo enquanto houver casas desabitadas a cair.

É urgente um plano de recuperação de casas devolutas para: dar habitação aos jovens, criar emprego, estancar a desertificação e reanimar as zonas deprimidas.

Há que criar condições e apoios para a criação do próprio emprego, nomeadamente nos sectores mais ligados aos jovens (realização de eventos, ambiente, agricultura biológica, artesanato, internet, património, turismo, etc).

Para além do trigo e do vinho quem aposta noutros sectores de actividade agrícola são estrangeiros. Como muito bem referiu nesta coluna a Cecília Moutinho, falta incentivo e formação para a procura de novas oportunidades de "regressar à terra" em condições dignas e sustentáveis.

Para além de continuar a ocupar uma parte do Alentejo (Olivença), o Estado Espanhol vai ainda autorizar a construção de uma refinaria junto à nossa fronteira. Curiosa esta localização: nem fica perto do mar (por onde entra o crude a refinar) nem fica perto de onde ele é necessário (não é uma zona industrializada). A coisa só pode ser entendida como "chutar" a poluição para o "nosso" lado.

É necessária uma posição firme sobre estas duas questões: quando é que estão a pensar devolver Olivença e levar de volta a refinaria?

Com os PIN's teremos campos de golf mas os nossos monumentos serão uma vergonha para quem nos visita. Será esse o turismo que nos interessa? 

Há que privilegiar o turismo cultural e ambiental (para nacionais e estrangeiros), baseado na defesa da nossa história, dignidade e identidade. Para isso é urgente um plano de recuperação do nosso património histórico e urbanístico como meio de valorizar o nosso património humano.

Resumindo, é necessária discriminação positiva para o Alentejo.

Luis Mariano - Estremoz

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