Escola pública no último debate online PDF Imprimir e-mail
23-Abr-2009
Debate sobre educação A defesa da escola pública esteve no centro do último debate sobre políticas de igualdade, contributo para a construção do programa eleitoral do Bloco de Esquerda. Participantes salientaram que a política deste governo é um caminho para reduzir a Escola Pública numa escola só para pobres, condenaram a incompetência do ministério, manifestaram solidariedade com as lutas dos professores e destacaram a necessidade de continuar a debater a educação.

Nesta Quarta feira, 22 de Abril, realizou-se o último debate online sobre políticas de igualdade. Neste debate sobre educação participaram Ana Benavente (Investigadora em Educação), Cecília Honório (Movimento Escola Pública), Manuel Grilo (dirigente do SPGL) e Paulo Guinote (autor do blogue "A Educação do Meu Umbigo"), Miguel Reis moderou. A deputada Ana Drago não pôde participar por se encontrar doente.

O debate começou pelo modelo de avaliação de desempenho dos professores, tendo as e os participantes criticado e condenado o modelo. Para Paulo Guinote " este modelo de avaliação não veio qualificar a escola pública", Ana Benavente disse que "a escola pública está mergulhada na burocracia" e considerou que a esquerda "debate pouco" e deve questionar "que concepção de escola queremos e temos". Cecília Honório afirmou que "a avaliação é uma farsa completa", salientou que o governo disse que o problema estava na escola, a começar pelos professores, o que é um discurso de poder. "A desigualdade é ignorada e mascarada, quando se diz que o mal está na escola ou nos professores" salientou.

Manuel Grilo destacou que o modelo governamental "serve simplesmente para classificar, impedir subida de salários e domesticar", considerando que "o todo das leis é uma escola que assenta na exclusão". Para Ana Benavente o "governo perdeu na avaliação dos professores, mas perdeu-se também a confiança social na escola, o que custa muito a ganhar e nada a perder".

O debate prosseguiu sobre a igualdade de oportunidades na escola, tendo um ouvinte questionado se neste terreno "não se pede de mais à escola".

As e os participantes destacaram unanimemente que a escola não pode corrigir por si as profundas desigualdades sociais da sociedade portuguesa. Consideraram porém que a política do actual governo cava e aprofunda as desigualdades.

Para Paulo Guinote a escola pública deve permitir uma "equidade de tratamento para todos e onde cada um possa expressar as suas potencialidades", considerou que defender uma igualdade de resultados é transformar a escola numa fábrica, declarando: "Esse é um projecto totalitário". Criticando a política do governo, Guinote salientou ainda que "corremos o risco de cada vez mais a pública ser apenas para os que não podem ir para outras".

Cecília Honório denunciou a "escola dualizada" do PS e deste governo, para quem a "escola padrão é a escola do saber e depois cada vez mais a escola do fazer, para os alunos desfavorecidos". Um projecto que consagra as desigualdades sociais e em que "os mais desfavorecidos são despejados numa escola para um ensino profissionalizante".

Paulo Guinote e Ana Benavente lembraram a nefasta política que Margareth Thatcher protagonizou em Inglaterra. A socióloga criticou as políticas "espécie de Penélope", em que cada governo começa por desfazer, e considerou que burocratização e centralização é "um pecado mortal". Ana Benavente disse ainda: "Vejo repetir-se em Portugal o caminho de Inglaterra do tempo da Thatcher continuado no blairismo de que o actual primeiro ministro é um admirador". Sublinhou no entanto que continua optimista, "desde que os professores continuem em luta".

Na continuação do debate, Cecília Honório disse que a democratização da escola pública "exige mais recursos e saber o que fazer com eles" e considerou"deprimente" a debilidade de recursos.

Paulo Guinote salientou que "muitas das medidas do governo são tomadas para mascarar desemprego precoce" e denunciou: "Temos cursos de restauração onde não há um frigorífico. Cursos de jardinagem no local onde há menos flores". Guinote sublinhou que qualquer mudança devia começar pela reformulação da lei de bases, que terá de ser alterada no próximo ciclo político, disse que em vez disso "o passo do governo foi atacar a escola de um ponto de vista economicista", considerando que com um plano de domesticação e formatação da escola, o governo foi também profundamente incompetente, chegando a haver um diploma onde dois artigos sucessivos se contradizem, destacando ainda que o ministério fez tudo "às arrecuas".

Manuel Grilo, sobre o modelo de gestão, lembrou o caso da demissão do Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas de Santo Onofre das Caldas da Rainha, que granjeou a solidariedade da generalidade dos professores e de muitas pessoas, de diversos quadrantes político e partidários. O dirigente sindical, salientou a propósito, que o que está em jogo na política do governo " é cilindrar quem não está de acordo", criticou um ministério em que não se conhece um pensamento pedagógico, mas que tem pensamento de organização com uma visão autoritária. Manuel Grilo afirmou também que a luta dos professores é essencial na defesa da escola pública e que vai continuar na luta pela carreira, pela dignidade.

Cecília Honório considerou ainda que a "Escola pública como fundadora de democracia é um desafio para a esquerda plural".

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