“Desporto, educação cívica e igualdade”, contributo de Carlos Gonçalves |
08-Mar-2009 | |
Para além das denúncias pontuais, a Esquerda tem dado pouca atenção teórica ao Desporto. Mesmo em espaço como este, onde o situar? Em Educação, como parte integrante da formação do indivíduo? Em Sociedade, dado que atravessa todas as idades e as vidas das pessoas? Em Trabalho e Economia, ou não seja o desporto profissional consumidor e gerador de recursos e de emprego? Em saúde, pela sua pretensa contribuição para a prevenção de doenças?
Assumir que a prática desportiva representa uma actividade social com valor intrínseco, constituindo uma fonte de bem-estar pessoal, expressão de potencialidades, participação cívica activa e compromisso com estilos de vida de partilha de espaços e vivências públicas, deveria moldar um programa em que crianças, jovens e adultos acedessem à prática em condições de igualdade e de qualidade.
As actuais teorizações dominantes e incontestadas reduzem o desporto ou ao combate de gladiadores profissionais ou a actividade física de responsabilidade individual destinada a moldar e disciplinar o corpo para a beleza e a saúde. O resultado é a privatização e elitização de toda a actividade para o clube prestador de serviços ou para o ginásio - abandonando o Desporto Escolar em gueto de relevância - e a retirada do espaço público de toda a carga associativa, educativa, de comunidade de afectos e sociabilidades que dá ao Desporto o seu valor social. Está por fazer o estudo da participação desportiva por classes sociais.
Um verdadeiro programa de desenvolvimento da Expressão Físico-Motora no 1º ciclo do Ensino Básico, um verdadeiro programa de Desporto Escolar nos ciclos seguintes de ensino, seriam um sinal forte de empenhamento em alterar a situação e de criar igualdade de oportunidades de participação para todos.
O apoio ao associativismo voluntário, a afirmação do desporto como acto de cidadania para todos e permitindo a todos que expressem o seu potencial de uma forma lúdica, positiva e auto-significante, representariam também uma rotura com o passado recente de exclusão e desinteresse.
Não colocar estes temas na agenda política ou deixá-los entregues ao discurso da direita, como tem sucedido até agora, pode significar a irrelevância do assunto ou a impotência da Esquerda para o pensar. {easycomments} |