Saúde à Esquerda: formação para o SNS |
04-Abr-2009 | |
Para a Esquerda, a Saúde é um dos esteios das políticas de igualdade. E não pode haver igualdade na Saúde senão aquela que um SNS gratuito, universal, abrangente e de alta qualidade pode providenciar. A formação em saúde tem, portanto, que se propor a cumprir esse desígnio: formar técnica e socialmente profissionais capazes de responder às necessidades em Saúde e garantir a excelência do SNS. Contributo de Vítor Castro Ferreira
Na formação em Saúde importa então: Rejeitar a visão economicista acrítica e ferverosa que hoje condiciona a prática e as decisões dos profissionais de saúde, mas ter consciência da finitude dos recursos e da necessidade de os racionar para providenciar os melhores cuidados a todas as pessoas – nesse âmbito, formar os profissionais na Medicina Baseada na Evidência (MBE) e nas Guidelines e práticas médicas mais recentes, fundamentando as decisões e evitando gastos desnecessários, mas assegurando sempre a melhor qualidade dos cuidados. Providenciar formação continuada e ao longo da vida, enquadrada dentro da carreira profissional (carreira médica, carreira de enfermagem, etc), e que não seja dominada pela indústria farmacêutica ou com custos incomportáveis para quem dela pretende usufruir. Criação de uma estrutura que, em cooperação com as ordens profissionais, avalie e promova activamente a qualidade do ensino pré e pós graduado na área da Saúde – uma área tão sensível não pode continuar monopolizada pelas ordens profissionais, muitas vezes representantes de interesses opacos e corporativos, e frequentemente contraditórios ao desenvolvimento do próprio SNS. Desenvolver a investigação pré e pós graduada na área da Saúde, de domínio público, enquadrando-a na formação continuada e nas carreiras profissionais. Sensibilizar para uma política de ganhos em Saúde, dando resposta aos principais problemas e causas de morte e morbilidade, melhorando a Saúde das populações – apostar no tratamento e prevenção das doenças cardiovasculares, respiratórias, oncológicas, mentais, obesidade e diabetes; na promoção de consumos conscientes, informados e responsáveis de substâncias como tabaco, álcool, drogas e medicamentos; e a prevenção das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
Incutir o espírito de trabalho multidisciplinar e em equipa, contrariando o individualismo e carreirismo que emperra o funcionamento e retira efectividade dos serviços, e em última análise, prejudica os doentes. Consciencializar para as diferenças e discriminações de classe social, de género, de etnia e de orientação sexual, que não só condicionam o acesso e os cuidados prestados aos doentes, como também limitam o próprio reconhecimento e progressão dos profissionais de saúde, e garantir os meios e conhecimentos necessários para as prevenir e esbater. Diversificar os currículos, os conhecimentos e as práticas, iniciando um debate em torno das medicinas ditas tradicionais ou alternativas, tantas vezes omitidas e ocultadas, e abrindo espaço para a sua implementação e complementaridade. Assegurar a formação da quantidade adequada e necessária de profissionais, mas garantindo sempre a qualidade da formação – não basta apenas aumentar cegamente as vagas, como tem vindo a ser feito no curso de Medicina, asfixiando depois as faculdades e os hospitais que não têm capacidade humana nem recursos financeiros que lhes permitam manter o nível de qualidade e exigência, que atingem já mínimos preocupantes. Garantir vagas de especialidade no SNS a todos os médicos recém licenciados, particularmente nas especialidades e regiões mais carenciadas.
Garantir que a formação médica pré-graduada continue a tomar lugar exclusivamente em universidades públicas e em hospitais públicos, instituindo uma cultura de serviço e missão em prol do bem comum, o oposto da medicina selectiva e lucrativa que se pratica nos privados. |