A defesa da escola pública esteve no
centro do último debate sobre políticas de igualdade, contributo
para a construção do programa eleitoral do Bloco de Esquerda.
Participantes salientaram que a política deste governo é um caminho
para reduzir a Escola Pública numa escola só para pobres,
condenaram a incompetência do ministério, manifestaram
solidariedade com as lutas dos professores e destacaram a necessidade
de continuar a debater a educação.
Nesta Quarta feira, 22 de Abril,
realizou-se o último debate online sobre políticas de igualdade.
Neste debate sobre educação participaram Ana Benavente
(Investigadora em Educação), Cecília Honório (Movimento Escola
Pública), Manuel Grilo (dirigente do SPGL) e Paulo Guinote (autor do
blogue "A Educação do Meu Umbigo"), Miguel Reis moderou.
A deputada Ana Drago não pôde participar por se encontrar doente.
O debate começou pelo modelo de
avaliação de desempenho dos professores, tendo as e os
participantes criticado e condenado o modelo. Para Paulo Guinote "
este modelo de avaliação não veio qualificar a escola pública",
Ana Benavente disse que "a escola pública está mergulhada na
burocracia" e considerou que a esquerda "debate pouco" e deve
questionar "que concepção de escola queremos e temos". Cecília
Honório afirmou que "a avaliação é uma farsa completa",
salientou que o governo disse que o problema estava na escola, a
começar pelos professores, o que é um discurso de poder. "A
desigualdade é ignorada e mascarada, quando se diz que o mal está
na escola ou nos professores" salientou.
Manuel Grilo destacou que o modelo
governamental "serve simplesmente para classificar, impedir subida
de salários e domesticar", considerando que "o todo das leis é
uma escola que assenta na exclusão". Para Ana Benavente o "governo
perdeu na avaliação dos professores, mas perdeu-se também a
confiança social na escola, o que custa muito a ganhar e nada a
perder".
O debate prosseguiu sobre a igualdade
de oportunidades na escola, tendo um ouvinte questionado se neste
terreno "não se pede de mais à escola".
As e os participantes destacaram
unanimemente que a escola não pode corrigir por si as profundas
desigualdades sociais da sociedade portuguesa. Consideraram porém
que a política do actual governo cava e aprofunda as desigualdades.
Para Paulo Guinote a escola pública
deve permitir uma "equidade de tratamento para todos e onde cada um
possa expressar as suas potencialidades", considerou que defender
uma igualdade de resultados é transformar a escola numa fábrica,
declarando: "Esse é um projecto totalitário". Criticando a
política do governo, Guinote salientou ainda que "corremos o risco
de cada vez mais a pública ser apenas para os que não podem ir para
outras".
Cecília Honório denunciou a "escola
dualizada" do PS e deste governo, para quem a "escola padrão é
a escola do saber e depois cada vez mais a escola do fazer, para os
alunos desfavorecidos". Um projecto que consagra as desigualdades
sociais e em que "os mais desfavorecidos são despejados numa
escola para um ensino profissionalizante".
Paulo Guinote e Ana Benavente lembraram
a nefasta política que Margareth Thatcher protagonizou em
Inglaterra. A socióloga criticou as políticas "espécie de
Penélope", em que cada governo começa por desfazer, e considerou
que burocratização e centralização é "um pecado mortal". Ana
Benavente disse ainda: "Vejo repetir-se em Portugal o caminho de
Inglaterra do tempo da Thatcher continuado no blairismo de que o
actual primeiro ministro é um admirador". Sublinhou no entanto que
continua optimista, "desde que os professores continuem em luta".
Na continuação do debate, Cecília
Honório disse que a democratização da escola pública "exige
mais recursos e saber o que fazer com eles" e
considerou"deprimente" a debilidade de recursos.
Paulo Guinote salientou que "muitas
das medidas do governo são tomadas para mascarar desemprego precoce"
e denunciou: "Temos cursos de restauração onde não há um
frigorífico. Cursos de jardinagem no local onde há menos flores".
Guinote sublinhou que qualquer mudança devia começar pela
reformulação da lei de bases, que terá de ser alterada no próximo
ciclo político, disse que em vez disso "o passo do governo foi
atacar a escola de um ponto de vista economicista", considerando
que com um plano de domesticação e formatação da escola, o
governo foi também profundamente incompetente, chegando a haver um
diploma onde dois artigos sucessivos se contradizem, destacando ainda
que o ministério fez tudo "às arrecuas".
Manuel Grilo, sobre o modelo de gestão,
lembrou o caso da demissão do Conselho Executivo do Agrupamento de
Escolas de Santo Onofre das Caldas da Rainha, que granjeou a
solidariedade da generalidade dos professores e de muitas pessoas, de
diversos quadrantes político e partidários. O dirigente sindical,
salientou a propósito, que o que está em jogo na política do
governo " é cilindrar quem não está de acordo", criticou um
ministério em que não se conhece um pensamento pedagógico, mas que
tem pensamento de organização com uma visão autoritária. Manuel
Grilo afirmou também que a luta dos professores é essencial na
defesa da escola pública e que vai continuar na luta pela carreira,
pela dignidade.
Cecília Honório considerou ainda que
a "Escola pública como fundadora
de democracia é um desafio para a esquerda plural".
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